sexta-feira, 5 de junho de 2009

"O nascimento da mae"

"Em algum momento depois do nascimento do filho vem aquela sensação de
estranheza e de que nada será como antes. Isso pode acontecer ainda na
maternidade, em casa, depois da primeira noite insone, no primeiro passeio
na rua... Não existe um momento preciso para a mãe nascer.


A sensação, a princípio, não é boa nem ruim, só é diferente. Aos poucos, a
mulher vai se dando conta de que nada será como antes, porque ela mesma é
uma pessoa completamente nova. É claro que vai continuar cultivando seus
defeitos e suas qualidades, características que já tinha antes de a barriga
crescer... Mas às qualidades, vão se somar outras. Por isso, não precisa se
assustar com a nova fase. É natural levar um tempo até se adaptar a esse
novo papel.


A mudança na vida ocorre principalmente porque a maternidade é a primeira
experiência irreversível da vida adulta. Você, com certeza, já ouviu dizer
que "filho é para sempre". Se por um lado dá um certo medo, por outro, vem o
prazer de saber que essa felicidade de ter um filho por perto não vai
acabar, vai permanecer por muito tempo.


Durante a gravidez, a mãe já começa a criar uma ligação com o bebê. Mas é
sem dúvida depois que ele vem ao mundo que ela também nasce como mãe. É o
contato físico e a convivência que fazem surgir o amor materno. Esse amor,
que apesar de incondicional, tem suas contradições. Lidar com sentimentos
opostos é um dos grandes desafios dessa nova fase.


Uma das primeiras sensações que aparecem com a maternidade é a de
onipotência. A mãe, e "só ela, sabe o que é bom para o bebezinho". Mas, ao
mesmo tempo, vem a insegurança, a dúvida de estar fazendo a coisa de modo
certo... Não é de se estranhar esta confusão... Não existe curso que ensine
a ser mãe. As mulheres são todas autodidatas neste assunto. Não podia ser
diferente. Apesar da falta de manual, o organismo da mulher, desde a
adolescência, se prepara todo mês para a maternidade.


Quando isso realmente acontece, vem a sensação de plenitude. Para muitas,
ser mãe é também uma forma de lutar contra a solidão e a angústia da morte.
Com um bebê nos braços é impossível sentir-se só.


É importante que essa mãe que nasce junto com o filho, amadureça com ele. A
maternidade é uma oportunidade maravilhosa de se transformar, de livrar-se
de preconceitos, de olhar o mundo com outros olhos, ternos como os do
filho."


* Aléssio Calil Mathias


O autor é ginecologista e obstetra, dirige a Clínica Genesis, em São Paulo,
e tem coluna em www.minhavida.com.br
* *Fonte: http://www.clicrbs.com.br*